A sociedade brasileira tem o que ela merece
Na última terça-feira, 23 de abril, um dia depois do dia em que o Brasil comemorou 513 anos da chegada de Pedro Álvares Cabral, quando inventaram esse país, e nossa sociedade atual nasceu, aconteceu comigo um fato muito chato.
Fiz uma viagem de São Paulo a Santos por linha convencional, à noite e como estava bem cansado dormi praticamente a viagem inteira. No ônibus haviam muitos outros como eu, que voltavam de um dia de trabalho e só queriam o aconchego do lar.
Estava usando uma calça jeans dessa que tem elasticidade, modelo slim que é o que melhor me cai pela minha vasta magreza, e os bolsos são um tanto problemáticos para se manter uma carteira um tanto volumosa de tantos itens que tenho dentro.
Ao acordar percebi que faltava pouco para o ponto onde tenho que descer e então me abalei para pegar minha mochila no compartimento que fica acima das cabeças dos passageiros e fui para a porta. Desci, caminhei uns 20 metros, vi o ônibus sair para seguir seu caminho quando percebi que minha carteira não estava mais no meu bolso. Havia esquecido dentro do ônibus.
Corri até a porta de casa, peguei meu carro e fui em disparada (50 Km/h Max – Avenida Conselheiro Nébias – Santos) atrás do veículo. Consegui alcança-lo já na avenida da Praia e pedi que ele encostasse para eu pegar minha carteira esquecida. Subi ao ônibus e ela estava lá, na poltrona 13 (pra quem é supersticioso…). Peguei-a, coloquei no bolso, agradeci ao motorista e fui para casa.
Horas depois, quando ia para cama, pensei em deixar algum dinheiro para minha mãe e abri a carteira para pega-lo quando tive uma ingenua surpresa. Ela estava vazia. A parte onde fica o dinheiro estava completamente lisa. Alguém havia pego a carteira, retirado os R$ 130,00 que eu tinha e deixado no mesmo local.
Fiquei com muita raiva e fiz o habitual, mentalizei as pessoas ao redor imaginando quem teria sido. Havia um rapaz sentado ao meu lado de uns 30 ou 35 anos, dois garotos (creio terem entre 17 e 20 anos) tagarelas no banco de trás um casal de idosos nas poltronas ao lado, um senhor na poltrona da frente e uma mulher de meia idade bem a minha frente (Sim, sou observador).
Foi então que me ocorreu o seguinte: Todas essas pessoas parecem serem pessoas de bem. Estavam acima de suspeitas de serem ladras ou trapaceiras.
Bom, então entendi o porque nossa sociedade é o que é. De que adianta reclamar verbalmente da classe política, dos empresários, patrões, policiais mal pagos, professores desqualificados se não somos capazes de sermos fiéis a princípios tão básicos como o respeito ao cidadão que está ao seu lado?
A Bíblia tem uma frase que é um dito popular (não entrando em discussão do que veio primeiro, se o dito ou se o livro) que diz que: Como podeis ser fiéis nas coisas grandes se não o fordes também nas pequenas?
Vejo tanta gente reclamar de corrupção em todo lugar e não se pode esquecer por uns minutos uma carteira com um pouco de dinheiro que tem aquele que acha que: “Se não for eu a pegar isso aqui, outro o fará!“.
Sou um coletivista, penso sempre muito mais nas conseqüências dos meus atos que na minha vontade individual, mas to ficando cansado disso. Só ando levando patada da vida por conta desse comportamento. Não sei se quero meus filhos sendo taxados de trouxas para esse bando de espertinhos se aproveitarem sempre que puderem.
Por isso que quando alguém acha algum montante de valor elevado e devolve sem mexer nele, é aclamado como herói. Oras, isso é uma obrigação e não um favor. As pessoas pensam assim por que em sua maioria, não devolveria nem um centavo.
Hoje estou falando de R$ 130,00 em uma carteira perdida, mas poderia estar falando da renovação da carteira de habilitação paga para não fazer a reciclagem, do comprovante de pagamento de mensalidade da faculdade forjada para pagar meia entrada, do ficar trabalhando um ou dois meses sem registro em carteira para receber o seguro desemprego, e por aí vai.